MERCADO EXIBIDOR – Paramount elimina o celuloide

Com o lançamento exclusivamente em digital de O Lobo de Wall Street nos Estados Unidos, a Paramount torna-se o primeiro grande estúdio de cinema de Hollywood a abandonar definitivamente a película

Leonardo de Caprio em O LOBO DE WALL STREET (2013), de Martin Scorsese

Foi-se o tempo em que um filme era legitimado apenas pelo seu suporte analógico. Há cerca de dez anos, a migração da película para o digital nos estúdios de cinema norte-americanos vem acontecendo gradativamente, sinalizando uma nova era na indústria cinematográfica. Na internet, os mais saudosistas anunciam o “fim do filme”, com a notícia recente publicada pelo Los Angeles Times de que a Paramount tornou-se o primeiro grande estúdio a discretamente abandonar a película em prol do digital. O marco é o lançamento 100% digital de O Lobo de Wall Street nos cinemas norte-americanos. O último filme da Paramount a ser distribuído ainda em 35mm foi Tudo por um Furo (Anchorman 2: The Legend Continues).

A decisão da Paramount pode levar outras majors a também investir paulatinamente em cópias digitais de seus filmes. A Weinstein Co. acabou de divulgar que seu próximo título – a saga adolescente de vampiros Vampire Academy –, será lançado apenas em versão digital. Disney e Fox também anunciaram que estão investindo pesado nesta transição. É possível que, até o final de 2014, o digital reine nos Estados Unidos sem qualquer concorrência da película.

Por outro lado, ainda é preciso ser cauteloso para assumir de vez esta mudança. Nos mercados internacionais, a Paramount continuará lançando seus títulos em película, especialmente em países que ainda não se modernizaram com a projeção digital. Além disso, 8% das 40 mil salas de cinema dos Estados Unidos ainda não estão adaptados à nova tecnologia. Para não assustar o mercado, os executivos da Paramount inclusive pediram sigilo na divulgação do anúncio. A discrição também revela o cuidado dos estúdios com cineastas ainda resistentes, como Quentin Tarantino e Christopher Nolan, grandes defensores da película. Até mesmo Scorsese, diretor de O Lobo de Wall Street, ainda é reticente em relação ao uso exclusivo do digital.

 TUDO POR UM FURO (2013), de Adam McKay

O investimento em massa dos estúdios na distribuição digital dos filmes iniciou com o lançamento de Avatar, de James Cameron, em 2009. Com o uso avançado do 3D, o filme precisou renovar a fórceps o parque tecnológico das projeções nas salas de cinema – algo que a princípio tornou mais caro o ingresso. No entanto, a transição tornou-se com o tempo bem menos onerosa para as majors: enquanto uma cópia em 35mm varia entre 1100 e 1500 euros, uma digital sai na faixa de 73 a 110 euros. Na medida em que fabricantes de película diminuíram a produção e fecharam estúdios de pós-produção (como a Technicolor), os preços de impressão e transporte de cópias em 35mm subiram. Pelo digital, os sistemas de projeção evoluirão para a transmissão por satélite, barateando os custos.

Em entrevista ao Los Angeles Times, o presidente da Associação Nacional de Proprietários de Cinemas Norte-americanos, John Fithian, corrobora que o fato de os grandes estúdios estarem agora distribuindo filmes apenas em sinal digital no mercado doméstico (dos EUA) assinala uma transição histórica para uma nova era. Em países europeus, como a Holanda e a Noruega, só existem salas de cinemas digitais. No entanto, o Brasil ainda deixa a desejar neste mercado. Até o final de 2012, segundo pesquisa da Agência Nacional de Cinema (Ancine), das 2.517 salas comerciais de cinema no Brasil, apenas 784 tem equipamentos de projeção digital no padrão DCI. Os números correspondem a apenas 31% do parque exibidor brasileiro.

No final do ano passado a rede Cinépolis concluiu a digitalização de seu sistema e também eliminou a exibição de filmes em celuloide. A Cinépolis está ingressando em Fortaleza com um complexo de 12 salas no RioMar Shopping e 5 no North Shopping Jócquei.

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